O que é?
A medula espinhal transmite os sinais nervosos do cérebro para o resto do corpo. O traumatismo da medula espinhal pode resultar em diversas lesões. Nos países europeus cerca de metade ocorre na sequência de acidentes de viação, 35 a 42% depois de quedas e entre 11 e 12% após lesões relacionadas com a prática de desporto. Mais de 80% dos casos de traumatismo da medula espinhal ocorrem em pessoas com idade compreendida entre os 15 e os 35 anos. Cerca 80% dos indivíduos afectados são do sexo masculino e até um quarto dos casos verificam-se após uma ingestão significativa de álcool. A maior parte das lesões da medula espinhal ocorrem ao nível da região cervical, ou seja, no pescoço. O seu traumatismo pode resultar numa equimose da própria medula espinhal, numa perturbação da sua irrigação sanguínea ou numa secção (corte) da mesma. As lesões da medula espinhal são graves e podem provocar uma diminuição da força, da coordenação e da sensibilidade, bem como de outras funções, tais como o controlo da bexiga.
Sinais e Sintomas
Os sinais e sintomas de um traumatismo da medula espinhal variam dependendo da localização e da gravidade da lesão. Um traumatismo completo da medula espinhal resulta numa perda total da sensibilidade e da capacidade para o indivíduo se mover que ocorre aproximadamente abaixo do nível da lesão. Por exemplo, uma pessoa lesada a meio do pescoço irá perder a sensibilidade e será incapaz de se mover abaixo do meio do pescoço. Quase metade das lesões da medula espinhal são completas e caso ocorram na parte superior do pescoço podem comprometer a capacidade para respirar e exigir que a pessoa tenha de recorrer a um ventilador mecânico para sobreviver.
Outras alterações que podem acompanhar uma lesão da medula espinhal incluem a dor ou a pressão no pescoço, na cabeça ou no dorso, bem como uma equimose e edema significativos da pele ao nível da área lesada.
As lesões de um lado da medula espinhal ou da sua zona central irão produzir padrões de sinais/sintomas característicos, tais como uma fraqueza ou paralisia dos braços ou das pernas ou de um dos lados do corpo. Numa pessoa traumatizada que está inconsciente, o grau da lesão neurológica pode ser difícil de avaliar, pelo que os médicos devem manter um grau de suspeição elevado relativamente à possibilidade de ter ocorrido uma lesão da medula espinhal e tomar medidas para proteger esta estrutura. Isto é geralmente conseguido através da utilização de um colar cervical rígido para imobilizar o pescoço ou através da imobilização da pessoa, colocando-a num plano rígido para poder ser transportada.
Diagnóstico
A possibilidade de traumatismo da medula espinhal deve ser tida em consideração em qualquer pessoa que tenha sofrido um acidente de viação grave ou que tenha experimentado uma lesão significativa da cabeça ou do pescoço. Se a pessoa estiver consciente, deve-lhe ser perguntado se sente dores no pescoço e se consegue sentir e mover os braços e as pernas. Pode igualmente proceder-se a uma avaliação para verificar se existem outras lesões que possam estar a desviar a atenção da lesão no pescoço e para avaliar a presença de outros sinais de lesão da medula espinhal. As radiografias, a tomografia computorizada (TAC) e a ressonância magnética nuclear (RMN) podem ser indispensáveis para avaliar a coluna e a medula espinhal.
É com frequência mantido um colar cervical para conservar o pescoço imobilizado até os resultados dos exames estarem disponíveis. No caso de se suspeitar de uma lesão da medula espinhal, o colar pode ser mantido durante pelo menos vários dias, mesmo que os exames sejam negativos, para o caso de existir uma lesão que não tenha sido detectada devido à presença de edema ou de espasmo muscular.
As lesões completas da medula espinhal são diagnosticadas quando ocorre uma perda total da sensibilidade e do controlo motor. As lesões incompletas causam alterações variáveis de perda sensitiva, de fraqueza muscular ou de paralisia, dependendo do local da lesão.
Duração Esperada
A duração dos sinais e sintomas da lesão da medula espinhal depende da sua natureza e da extensão. As equimoses ligeiras podem desaparecer com o tempo, embora a recuperação completa por vezes demore semanas a meses. As lesões mais graves resultam frequentemente numa perda permanente da função. As estratégias para ajudar as células nervosas (neurónios) a recuperar depois de uma lesão constituem uma área de investigação.
Prevenção
A prevenção de uma lesão da medula espinhal requer a prevenção das lesões traumáticas da coluna vertebral, especialmente do pescoço. As causas principais de lesão da medula espinhal incluem os acidentes de viação, as quedas, os desportos, os acidentes de mergulho e as armas de fogo. Para prevenir uma lesão da medula espinhal:
- use cinto de segurança
- se beber não conduza
- não mergulhe em água de profundidade desconhecida
- mergulhe apenas em água com pelo menos 2,5 a 3,5 m de profundidade e com os braços à sua frente
- use equipamento de protecção ao praticar desporto
- proteja-se contra as quedas.
Tratamento
Os cuidados de emergência, a cirurgia (quando necessária), a reabilitação e os cuidados de suporte, incluindo a utilização de ventiladores, podem ajudar as pessoas com lesões da medula espinhal a sobreviverem e a aproveitarem ao máximo a função neurológica remanescente. Imediatamente depois da lesão, são com frequência administrados corticosteróides para reduzir o edema que envolve a medula espinhal lesada, no entanto a eficácia desta medida é hoje questionada.
A maior parte dos tratamentos para as lesões da medula espinhal envolvem uma abordagem de vigilância. Se a lesão for ligeira, apenas o tempo irá revelar a extensão da recuperação. Nos indivíduos com lesões graves, é pouco provável que ocorra uma recuperação completa e o tratamento consiste em proporcionar cuidados de suporte, em ensinar novas aptidões e em desenvolver estratégias para lidar com o problema. Nos traumatismos da medula espinhal é por vezes necessária uma intervenção cirúrgica, quando a lesão das estruturas ósseas que a envolvem têm de ser estabilizadas ou no caso de ser necessário remover um coágulo de sangue. As áreas de investigação actual incluem:
- arrefecimento da temperatura corporal ou arrefecimento dos tecidos próximos da medula espinhal
- transplante de células nervosas
- hormonas e factores de crescimento que estimulem a regeneração das células nervosas
- estimulação eléctrica.
Alguns especialistas consideram que as células estaminais constituem uma opção promissora para ajudar a regenerar as células nervosas lesadas e a recuperar alguma da função neurológica perdida, mas a evidência clínica é ainda muito reduzida.
Quando contactar o seu médico
Todos os casos de traumatismo real ou possível da medula espinhal devem ser avaliados imediatamente por um médico.
Prognóstico
A medula espinhal pode cicatrizar com o tempo sem problemas adicionais ou pode conduzir a deficiências permanentes, dependendo da localização e da gravidade da lesão.